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Como uma mudança dos juros nos EUA pode impactar a economia brasileira

O Federal Reserve equivale ao Banco Central do Brasil e é responsável pela definição dos juros básicos norte-americanos


Fonte: Forbes


Ao se aproximar da vacinação completa contra a Covid-19 em metade da população, os Estados Unidos vislumbram também o fim da pandemia e a normalização da atividade econômica. O país atravessou a crise com forte estímulo financeiro às famílias e empresas no país, não por acaso o seu PIB no primeiro trimestre deste ano traz crescimento de 6,4% na comparação anual.


Mas a expansão da economia dos EUA vem acompanhada também de problemas, como escassez de algumas matérias primas para a indústria e falta de mão de obra no mercado de trabalho, contexto que, ao lado de outros fatores, favorece o crescimento da inflação.


O objetivo de inflação média do Fed (Federal Reserve System), órgão equivalente ao Banco Central do Brasil, é de 2% ao ano para 2021. Porém, apenas em maio, os preços ao consumidor cresceram 0,6%, acumulando alta de 5% em 12 meses no país. Ainda assim, em sua última reunião, o Fed decidiu em sua reunião deste mês manter as taxas de juros na faixa de 0% a 0,25%.


A taxa de juros é um dos principais instrumentos monetários para controle da inflação. Para justificar uma taxa de juros inalterada no país, o principal argumento do Fed e da administração Joe Biden é que os aumentos nos preços são transitórios e esperados em toda reabertura da economia.


O Goldman Sachs projeta que o Fed terá mais surpresas com a inflação. “Prevemos que o Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal suba 3,7% este ano”, diz o relatório. Número bastante acima do intervalo de 2% a 2,3% projetado oficialmente.


Rachel de Sá, economista-chefe da corretora de investimentos Rico, aponta que o debate da inflação nos EUA é um dos assuntos que mais divide especialistas. Ela explica que, além da taxa de juros, o país também controla a alta nos preços através de estímulos monetários.


Tradicionalmente, quando a intenção é movimentar a economia, o governo norte-americano tende a aprovar pacotes de estímulos para incentivar o consumo e os investimentos pelas empresas. Especialistas, no entanto, temem que estes gastos pressionem ainda mais a inflação em 2021.


“Existe o medo de que a economia possa superaquecer e, quando sair do controle, não seja possível segurar”, explica Rachel.


Em ambos os casos, a postura do Fed e as mudanças nos juros norte-americanos têm o poder de afetar investimentos aqui no Brasil. Entenda o porquê na galeria abaixo:


Consequências do aumento da taxa de juros


Joelson Sampaio, professor da Fundação Getúlio Vargas, explica que quando a taxa de juros sofre aumento em países desenvolvidos, especialmente nos EUA, que é a maior economia do mundo, o mercado financeiro enfrenta um fenômeno chamado “flight-to-quality”.


Ou seja, os investidores migram de países emergentes (como o Brasil), onde há mais riscos nos investimentos, para países com riscos menores (como os EUA). Isso acontece porque a principal motivação dos investidores ao buscar países como o Brasil para investir é o pagamento de juros altos. Porém, se a taxa de juros em um país desenvolvido é elevada, vale mais a pena migrar para este local.


Para estimar como essa mudança pode afetar o mercado financeiro brasileiro, Rachel de Sá explica que os investidores buscam por algo chamado custo de oportunidade. Isso pode ser calculado através do diferencial de juros, subtraindo a inflação pela taxa de juros básica.


Por exemplo, se nos Estados Unidos a taxa de juros está em 0,25% e a inflação em 5%, o diferencial de juros é de 4,75% negativo. Já no Brasil, com a taxa de juros a 4,25% e a inflação a 7,5% nos últimos doze meses, o juros diferencial é de 3,25% negativo.


Logo, se os Estados Unidos aumentam a taxa de juros, esta relação pode mudar. O mesmo vale para as mudanças nos juros no Brasil. Vale lembrar que os ativos brasileiros são considerados um investimento mais arriscado que os estadunidense


Influência dos estímulos estadunidenses


Antes de alterar a taxa de juros, o Fed pode tentar controlar a inflação através da redução e aumento de estímulos monetários. Isso nada mais é do que a compra e venda de títulos corporativos, aumentando a disponibilidade de crédito para as empresas (empregadores) do país.


“Com aumento de estímulos, há aumento de liquidez. Se a liquidez está alta, significa que existe bastante dinheiro no mercado. Portanto, o apetite ao risco aumenta e investidores migram para países emergentes”, explica Rachel.


O contrário também acontece. Se, para diminuir a inflação, os Estados Unidos diminuírem os estímulos, a liquidez irá reduzir. Por consequência, o apetite ao risco cai e, ao final, países emergentes como o Brasil sofrem.


“Grande parte dos estímulos monetários volta para o mercado, as pessoas reinvestem o valor e isso acaba chegando também em nosso território nacional”, afirma a economista.


Qual a consequência para minha carteira de investimentos?


Com a migração de investidores estrangeiros para outros países, a primeira consequência direta pode ser uma desvalorização de ativos nacionais, como as ações negociadas na Bolsa brasileira, explicam especialistas. “Com aumento de risco e diminuição de liquidez, podemos ter investidores saindo da bolsa brasileira”, avalia Rachel.


Além disso, o aumento da taxa de juros estadunidense também impacta a curva de juros mundial e, por consequência, a brasileira. Rachel de Sá afirma que, quando o Fed aumenta os juros a longo prazo, o mercado acompanha essa expectativa e passa a esperar alta da Selic em território nacional.


A saída de recursos (dinheiro) dos investidores estrangeiros do mercado brasileiro significa também a saída de dólares, logo isso pode afetar a cotação do câmbio em relação ao real, elevando a moeda norte-americana frente à brasileira.


O que acompanhar para estar preparado


Não é possível saber com exatidão qual será a postura do Fed, é por isso que as reuniões, comunicados e atas do banco central norte-americano são tão acompanhadas pelo mercado.


Santiago, professor da FGV, aponta que índices de desemprego e inflação são os principais motivadores da taxa de juros norte-americana. “A tendência é baixar a taxa quando o desemprego está alto e aumentar quando a inflação está alta”, diz.


Este contraste explica o atual debate, em que os Estados Unidos enfrentam uma inflação em alta, mas também desemprego em níveis recordes. O Federal Reserve tem reiterado a sua postura de apenas retirar estímulos e elevar os juros quando o país atingir o pleno emprego.


Santiago também destaca a necessidade de acompanhar a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), que atua nos EUA, assim como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no Brasil. A SEC “tem dois papéis: regular as empresas listadas nas bolsas de valores e os fundos de investimento”.


As mudanças feitas pela SEC, como novas regras no mercado de ações, flexibilização ou novas exigências podem influenciar as regras de bolsas emergentes e a CVM brasileira, pontua Santiago. “Quando a SEC avança em transparência ou regularização, outras bolsas ao redor do mundo tendem a copiar”, diz.


Fonte: Forbes



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