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Investimentos no exterior disparam no último ano com juros baixos e acesso mais fácil


Os investimentos de brasileiros em ações no exterior no primeiro trimestre já somam metade de todo o resultado de 2020

Fonte: Valor investe

O cenário crescente de incertezas no Brasil e a baixa taxa de juros, aliados ao acesso facilitado a aplicações no exterior, vêm aumentando vertiginosamente os investimentos dos brasileiros em ativos financeiros de outros países. Esse movimento pode ser observado em várias categorias de investimentos, como ações compradas diretamente no exterior, fundos que investem lá fora e recibos de ações estrangeiras (BDRs) e fundos de índice internacionais que agora estão acessíveis por meio do homebroker das corretoras. "A taxa de juros em 2016 estava em 14% ao ano. Investimento para o brasileiro era o CDI [índice de referência para renda fixa que acompanha a Selic]. Aí o juro caiu para 2% ao ano e começaram a perceber que o CDI não estava mais fazendo a função de investimento e foi rapidamente se transformando em gestão de liquidez", diz Eduardo Camara Lopes, chefe de investimentos da Itaú Asset. Os investimentos líquidos dos brasileiros em ações no exterior (critério que considera as compras menos as vendas), por exemplo, já somam - apenas no primeiro trimestre neste ano - metade de todo o resultado de 2020, tanto em reais quanto em dólares. São US$ 1,57 bilhões de janeiro a março deste ano ante US$ 3,08 bilhões no ano passado. Na moeda brasileira, são R$ 8,65 bilhões em 2021 contra R$ 16,02 bilhões em todo o ano de 2020, e que por sua vez equivalia a oito vezes a remessa de R$ 1,99 bilhões realizada em 2019.



Com exceção de um breve período em 2015 e entre abril de 2016 e março de 2017, as compras de ações por brasileiros no exterior vêm superando as vendas dos papéis há pelo menos oito anos, tendo alcançado um pico de R$ 22,29 bilhões no acumulado em 12 meses até março. Para entender a dimensão desse valor, os investimentos de brasileiros no exterior nos últimos 12 meses já correspondem a mais de um terço de todo o estoque aplicado nos conservadores títulos do Tesouro Direto.

E os investidores têm remetido dinheiro para investir lá fora não apenas para comprar papéis de empresas estrangeiras, como também de companhias brasileiras que abriram capital em bolsas do Estados Unidos, como foram os casos de PagSeguro, Stone e XP. "São marcas grandes e muito conhecidas da vida das pessoas", diz Roberto Lee, presidente da Avenue, corretora americana que tem os brasileiros como principais clientes, e que prevê uma continuidade do movimento forte de internacionalização dos investimentos em 2022 e 2023. Entre seus clientes, ele diz que a Avenue tem penetração de 15% nas carteiras, mas tem como meta aumentar essa fatia para um patamar entre 30% e 40% até 2022, com a oferta de novos produtos.

Investindo indiretamente O acesso direto ao mercado internacional vem sendo facilitado nos últimos anos com o surgimento de mais corretoras que oferecem essa possibilidade, taxas menores e baixo valor de aplicação mínima. Mas não é preciso fazer esse movimento se o investidor não quiser, já que as alternativas par investir lá fora de forma indireta também cresceu muito. E os números mostram que a demanda por essas aplicações também é alta. O número de investidores em fundos internacionais, por exemplo, saltou 70% desde o fim do ano passado até abril, quando somava 344 mil cotistas, o equivalente a 23,3% dos investidores ativos do Tesouro Direto. "É uma transformação [da indústria de investimentos] e um movimento sem volta. Os investidores já entenderam que é possível, já estão familiarizados com gestoras de primeira linha e um nível de empoderamento de acesso facilitado que veio para ficar. Daqui para frente isso [aplicação no exterior] só vai aumentar", diz Fabiano Cintra, especialista em fundos internacionais da XP.

Para Lee, da Avenue, esse movimento de maior investimento em aplicações indiretas no exterior deve beneficiar em breve os aportes diretos, uma vez que os conteúdos sobre esses temas se multiplicaram na mídia e entre os analistas. "Ao liberar o BDRs, o o ecossistema inteiro se moveu e passou a ter mais atenção de casas de análise e mais cobertura econômica e jornalística de empresas de lá de fora", explica.

Mais acessível O acesso mais democrático à internet colaborou com a evolução do mercado. "Houve simplificação da comunicação com os investidores, temos novas vozes no mercado, como influenciadores, novos veículos de imprensa e remodelagem dos antigos nessa dura missão de simplificar esse modelo de investimento, que era muito elitizado", diz Carlos Takahashi, presidente da BlackRock Brasil. Com mais conhecimento, os investidores só precisavam encontrar maior acesso para alocar seu dinheiro de forma simplificada e sem precisar começar com grandes aportes. Assim, foi a maior abertura regulatória do acesso de pequenos investidores a ativos atrelados ao exterior a ponte mais recente para o aumento da diversificação da carteira dos brasileiros. Trocando em miúdos, com mais portas abertas, mais gente "saiu" por ela e foi conhecer novas possibilidades de investimentos. O maior exemplo disso foi a liberação, em 22 de outubro de 2020, das negociações de BDRs para pequenos investidores, que passaram a poder investir de forma simplificada em empresas conhecidas como Google, Apple e Amazon. Até então, apenas pessoas com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras podiam fazer esses investimentos. Também foram liberados os BDRs de ETFs na B3, a bolsa brasileira.

  • Se perdeu na sopa de letrinhas? BDR é uma sigla em inglês para Brazilian Depositary Receipts, ou seja, recibos de ações de empresas estrangeiras ou de outros títulos neogicados em bolsas lá de fora. O investidor que compra um BDR está investindo de forma indireta em ativos internacionais. O ETF é uma sigla para Exchange Traded Fund, também conhecido como fundo de índice. Parece complicado, mas é simples entender: são fundos de investimento que replicam o desempenho de índices internacionais, como o S&P 500, por exemplo. O BDR de ETF é um investimento num fundo de índice do exterior.

Na prática, o que essas siglas todas significam é que agora dá para comprar em fundos de ações das principais empresas americanas, europeias, asiáticas, pelo mesmo processo por meio do qual se compra uma ação da Petrobras, da Vale ou Itaú, diretamente no homebroker. Foram duas grandes portas abertas e o investidor - mais uma vez - respondeu positivamente. O volume de estoques de BDRs era de R$ 14,3 bilhões no fim de 2020 e passou para R$ 21,2 bilhões em março deste ano, um avanço de 48,3%. O volume médio de operações diárias multiplicou por mais de três vezes, passando de R$ 115 milhões em 2020 para R$ 351 milhões neste ano.


"Nosso índice aqui é muito concentrado, enquanto lá fora consegue uma diversificação bem maior. A liberação para pessoa física dos BDRs no segundo semestre do ano passado fez com que o mercado tivesse maior liquidez e com que as pessoas quisessem diversificar mais", diz José Lucio Nascimento, sócio do BTG Pactual e diretor de produtos do BTG Pactual Digital. Em número de investidores, eram 128,9 mil em dezembro de 2020 e saltou para 224,1 mil em março de 2021, um aumento de 73,9%. Desse total, a esmagadora maioria (222.424) eram investidores pessoas físicas. Para Takahashi, a leitura dos investidores é de que os BDRs - especialmente os de ETFs - é um meio de aplicação no exterior eficiente e de baixo custo. "Mesmo para os investidores institucionais, os BDRs de ETFs permitem uma gestão de portfólios também muito eficiente e embasada em estratégias consistentes. Esse entendimento do quanto isso pode ajudar os investidores nos levaram a mais esse passo de aumentar gradualmente a oferta desses ativos", afirma o presidente da BlackRock Brasil. Segundo Rogério Araújo Santana, diretor de relacionamento com clientes da B3, as mudanças aprovadas no regulamento para emissão desse tipo de ativos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), no fim de outubro, vêm ajudando a aumentar as possibilidades internacionais na bolsa brasileira. Tanto é que novidades chegam ao cardápio de BDRs de ETFs nesta segunda-feira (3) com a estreia de 26 novos ativos desse tipo na B3 pelas mãos da gestora BlackRock. Nascimento, do BTG Pactual, avalia que a entrada no mundo de investimentos no exterior é facilitada por meio dos BDRs de ETFs, já que o produto entrega uma "cesta pronta" e selecionada de ativos. O segundo passo, para ele, é ir para o BDRs de ações, onde é necessário ter maior conhecimento sobre as empresas escolhidas antes de investir. Trabalho em conjunto O crescimento no número de alternativas de investimentos dos brasileiros no exterior atende a uma demanda latente do mercado e foi uma resposta conjunta da indústria e regulação em meio a um cenário macroeconômico favorável. Foi a tempestade - positiva - perfeita. "Uma das belezas do mercado de capitais brasileiro é a diversidade do perfil de investidor e o protagonismo da pessoa física tem aumentado nos últimos dois, três anos. Cada um com seu apetite ao risco e sua sofisticação", afirma Santana, da B3, destacando o esforço de toda a indústria de investimento em aumentar os produtos internacionais disponíveis aos brasileiros. Com o apetite aumentando e um número limitado de pratos a serem servidos, foi preciso aumentar a oferta. "Foi um movimento de toda a indústria de investimentos de procura por risco e melhores retornos. Com toda essa migração para renda variável, o mercado acaba limitado. São mais gestores, com um volume maior, acessando as mesmas ações, sendo boa parte das empresas [com ações] os mesmos emissores de renda fixa", afirma Fabiano Cintra, especialista em fundos internacionais da XP. Apenas entre o fim de 2019 e o mês passado o número de pessoas físicas na bolsa mais do que dobrou (+113,8%) e chegou a 3,561 milhões de investidores. No fim, o mar ficou pequeno demais para tantos pescadores. De olho nisso, a XP foi uma das empresas que tratou de disponibilizar mais peixes. A empresa lançou 120 fundos de investimentos internacionais. Em janeiro de 2020 eram 80 mil cotistas com R$ 1 bilhão investido. Em março desse ano o número de cotistas saltou para mais de 600 mil com quase R$ 20 bilhões aplicados. Há planos para o lançamento de mais 30 a 40 fundos internacionais até o fim de 2021. "O que era sonho para o brasileiro se tornou realidade. Ter acesso a esses investimentos de maneira conveniente é muito atrativo e temos muitas opções para o investidor em geral, não só qualificado", diz Cintra, da XP.

Quando observado o volume de dinheiro enviado a investimentos no exterior por meio de fundos, o crescimento também é robusto, com os brasileiros já tendo enviado de janeiro a março deste ano quase um terço de todo o valor do ano passado. "Se mantivermos o ritmo de janeiro, fevereiro e março, chegaremos a US$ 12 bilhões no fim do ano", estima Marcelo d'Agosto, consultor financeiro e colunista do Valor Investe. De olho nesse maior apetite dos investidores por ativos gringos, alguns fundos foram lançados em meio ao auge de incertezas da pandemia. Foi o caso do fundo multimercado Carteira Itaú Internacional, que tem 48,7 mil cotistas e sequer existia em março de 2020, e do BTGP Diversified Global EQ FIA BDR, que no apagar das luzes de novembro e tem 2 mil cotistas. Ainda é "pouco" Apesar da "porteira aberta" para os investimentos no exterior, a exposição dos brasileiros a renda variável lá fora não supera 2% da carteira. "Não faz sentido que os investidores do Brasil, pas que representa 3% do PIB mundial, tenham apenas 1% de renda fixa no exterior e 2% em renda variável global", diz Cintra, da XP. Para Lopes, da Itaú Asset, essa parcela exposta ao exterior deve continuar crescendo, ainda que não na mesma velocidade, e alcançar 5% a 8% nos próximos anos. "O portfólio médio do brasileiro daqui para frente vai ser cada vez mais diversificado", diz. Nascimento, do BTG, vê como níveis saudáveis de exposição das carteiras a investimentos internacionais o patamar de 5% para quem tem perfil conservador, 10% para moderados e 20% para arrojados. Embora a diversificação - geográfica e em moeda - das carteiras dos brasileiros tenda a ser cada vez maior, Lopes tem dúvidas sobre o tamanho do apetite do investidor quando as bolsas lá fora - que vêm alcançando recordes - começarem a se acomodar e o dólar perder seu ímpeto de valorização ante o real. "Os gastos dos brasileiros são em reais, esse momento - quando chegar - será um teste [para o apetite de ativos no exterior]", diz. O chefe de investimentos da Itaú Asset destaca, contudo, que mais do que tentar surfar ondas de ganhos dos ativos, os investidores devem buscar o equilíbrio de sua diversificação, buscando ativos descorrelacionados entre si. "O maior risco que o investidor pode correr hoje é estar 100% investido em Brasil. Todos estão se tornando consciente dos benefícios de diversificar", diz Cintra, da XP.


Fonte: Valor investe

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