IPOs deram retornos médios positivos nos últimos anos
Estudo do Credit Suisse analisou cerca de R$ 150 bi em operações feitas de 2012 a 2020
Fonte: Valor Econômico

Ivan Monteiro: operações conduzidas basicamente por investidores domésticos — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Um estudo feito pelo Credit Suisse com ações de empresas que fizeram IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações) entre 2012 e 2020 mostra que esses papéis têm gerado bons retornos para o investidor no longo prazo.
Olhando a performance média da safra dos papéis que vieram a mercado em cada um desses anos até dezembro de 2020, apenas em 2015 o resultado ficou negativo, em 27%. Naquele ano, houve apenas um IPO, da Par Corretora, hoje WIZ. Os melhores desempenhos foram nas safras de 2012, com alta de 208% dos papéis; e de 2018, com valorização de 299%. Em 2012 chegaram à bolsa Unicasa, BTG Pactual e Locamerica. Esta última empresa hoje é a Unidas, com papel que acumula a maior valorização desde o IPO, 825%. A performance positiva também é puxada pelas ações do BTG, que valorizam 165%.
O período englobado pelo estudo do Credit Suisse soma R$ 150 bilhões distribuídos em 87 operações - estão incluídos 9 ofertas feitas por empresas brasileiras em bolsas americanas e 15 “re-IPOs”, operações em que as empresas já eram listadas, mas ganharam mais liquidez e atenção dos investidores após uma nova venda de ações. Conforme a amostra, 20 empresas têm alta acima de 50%, e apenas 3 foram deslistadas: Biotoscana, CPFL Renováveis e Netshoes.
No período estudado, o volume mais expressivo de ofertas está em 2020, com 34 operações, que giraram R$ 48,6 bilhões - 2020 respondeu pelo mesmo número de operações dos três anos anteriores somados, embora o volume financeiro entre 2017 a 2019 tenha sido 43% maior. No ano passado, o tamanho médio das ofertas foi de R$ 1,43 bilhão, menor desde 2016.
Os executivos do Credit Suisse destacam que 2020 confirmou a tendência de investidores brasileiros passarem a ter mais espaço nas operações. “Quando fizemos ‘road show’ da BB Seguridade [em 2013], tivemos pouquíssimas reuniões no Brasil. Deslocamos três times para visitar o investidor internacional, nos EUA, Europa e Ásia. Hoje já é possível dizer que há operações conduzidas basicamente por investidores domésticos, que conta com mais variedade e profundidade”, afirma Ivan Monteiro, vice-presidente do conselho de administração do Credit Suisse no Brasil, que teve cargos de liderança no Banco do Brasil e Petrobras.
Eduardo de La Peña, responsável por mercado de capitais da área de capital markets & advisory do Credit Suisse, exemplifica com Rede D’Or, um dos maiores IPOs do país, que movimentou R$ 11,39 bilhões e contou com 55% da demanda do investidor local. A maior oferta desse intervalo foi BB Seguridade, em 2013, de R$ 11,475 bilhões, sendo que 58% dos papéis ficaram com estrangeiros.
“Essa demanda surgiu com a mudança do cenário de investimentos no Brasil, com a queda dos juros e as plataformas financeiras, que dão oportunidade de o investidor comprar fundos de vários gestores diferentes”, destaca De La Peña. Com isso, ele complementa, o mercado vê uma proliferação de gestoras independentes de renda variável captando recursos, o que gera competição entre elas.
“Dependendo do IPO, eles competem para entrar nessas operações com fatias relevantes. Essa pode ser uma boa forma de gerar um retorno maior, descolando-se do benchmark.” Pelas regras da B3 para o ingresso no Ibovespa, um papel que estreia demora cerca de um ano para atender aos critérios de entrada. “Se o gestor consegue uma alocação relevante e pela sua capacidade de análise fica com uma ação que performa bem, ele está com um diferencial em relação à média”, diz De la Peña.
O ano de 2020 também se destacou com a chegada de novos setores à bolsa; teve marketplace, gestão ambiental, equipamentos eólicos, cuidado animal, material de construção e uma mineradora de ouro. “Isso significa mais representatividade da economia no mercado de capitais”, destaca Monteiro.
No caso da Aura Minerals, operação coordenada pelo Credit Suisse, o banco identificou que não havia nenhuma empresa no Brasil que possibilitasse a diversificação de portfólio para os gestores em ouro.
Mas trazer empresas de setores novos para a bolsa é um desafio diferente para a equipe dos bancos. “Quando você faz uma operação de uma empresa que tem um comparável direto na bolsa, já tem meio caminho andado. Quando o ramo de atuação é novo, o trabalho de educação do investidor no pré-marketing da oferta é muito mais profundo”, diz o executivo.
Um exemplo dentro do Credit Suisse foi a oferta da Neogrid, de software para a gestão de cadeias de suprimentos. “Ninguém faz nada parecido no Brasil ou na América Latina. Então houve um trabalho muito maior para explicar o que a empresa faz.” Nas reuniões com investidores, além dos principais executivos, clientes e a equipe de TI da empresa participaram.
De la Penã destaca que às vezes a novidade tende a chamar mais atenção. “Se você traz uma empresa que já é mais do mesmo, o investidor pode ter menos interesse.” Em 2020, oito empresas do setor de construção protocolaram pedido de oferta na CVM, mas desistiram do processo. Uma hipótese para isso foi o fato de o investidor já estar bem alocado no segmento.
Thiago Rocha, responsável por fusões e aquisições no Credit Suisse, destaca que tantas empresas novas na bolsa são prenúncio de aquecimento em operações de fusões e aquisições. “Muitas captaram para isso. Quando elas estão listadas, passam a ter outra moeda de troca, que são as ações justamente precificadas a mercado”, diz. E a capacidade de acessar o mercado também passa a ser um diferencial nessas operações. A Intermédica, que discute agora a união com a Hapvida, já fez cinco oferta subsequentes para financiar seu plano de crescimento - uma empresa que não viu no IPO apenas uma forma de dar liquidez aos acionistas originais.
Monteiro conta que, no passado, sempre que havia uma apresentação sobre novo projeto nas empresas em que esteve no conselho, sabia de cor qual a primeira linha do primeiro slide: “Tomar 85% dos recursos no BNDES”. “Estamos vendo uma modificação desse cenário, por conta do fortalecimento do mercado de capitais”, diz.
Fonte: Valor Econômico