Investidores apostam cada dia mais em guerra de preços pela Linx e ninguém se preocupa com empresa, só com o bolso

A companhia de software Linx, especializada no segmento de varejo, terminou o dia avaliada em 6,5 bilhões de reais. Os valores das propostas conhecidas de Stone e Totvs já ficaram para trás. A escalada das ações começou gradual na semana passada e ganhou força nesta segunda-feira, 19. A oferta da Stone é de 6,28 bilhões de reais e da Totvs, de 6,1 bilhões de reais. Uma guerra de preços entre as rivais compradoras é esperada pelo investidor e vários deles estão apostando seu rico dinheiro nisso. Mas, de concreto, não há nada no momento. Se haverá ou não aumento das ofertas é a única grande incógnita dessa operação.
A crença em novos lances cresceu depois que a Totvs decidiu quebrar o silêncio e veio a público dizer que avalia aumentar sua proposta — ainda que até o momento não tenha feito nada prático nessa direção. A declaração foi dada “on de records” pelos presidentes do conselho, o fundador Laércio Cosentino, e da empresa, Dennis Herszkowicz. Há muita fé de que possa ocorrer.
Nesta segunda-feira, 19, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, noticiou que a Stone estuda mudar sua oferta para acabar com o assunto de uma vez por todas e ainda alterar a estrutura do negócio, dada a percepção negativa que existe sobre a operação. As parcas linhas — não negadas pela Stone — deram tração ao movimento na bolsa e asas à imaginação dos investidores.
Ainda que esteja disposto a aceitar a transação, devido ao prêmio de 35% sobre o preço de mercado pré-oferta, o acionista da Linx fica com o gosto amargo no quesito governança. Ao longo do dia, ganhou corpo a leitura de que faria muito sentido para a Stone ampliar seu lance e encerrar a fatura de uma vez por todas — mesmo antes de qualquer movimento da Totvs, o que certamente parece um contrasenso. A lógica que se seguiu foi: a Stone sabe que seu bolso é evidentemente mais fundo que o da rival para essa transação e não tem razão para dar espaço a uma disputa ruidosa — e os investidores também. Vários acionistas da Linx se dizem presos no dilema de rejeitar o negócio pela governança e aceitar pela condição econômica.
A decisão da CVM de impedir o voto dos fundadores da Linx — o trio Nércio Fernandes, Alberto Menache e Alon Dayan, donos de 14% da empresa — também colocou lenha na fogueira e na lógica que passou a ser perseguida pelos investidores . Ainda que caiba recurso ao colegiado da autarquia, a decisão da área técnica coloca pressão. Se os diretores da casa confirmarem o entendimento da superintendência, não apenas perdem-se os votos favoráveis dos três, como o peso dos possíveis negativos cresce. A CVM entendeu que o pagamento de 185 milhões de reais ao trio prometido pela Stone pode ser entendido como um benefício particular, ainda que seja em troca de um compromisso de não competição. O texto breve do parecer demonstra a força da convicção no entendimento.
Fonte: Exame